ESCORPIONISMO

PORQUE TANTA ATENÇÃO PARA ESCORPIONISMO?

Os acidentes escorpiônicos são importantes em virtude da grande freqüência com que ocorrem e da sua potencial gravidade, principalmente em crianças picadas pelo Tityus serrulatus.

O escorpionismo (envenenamento causado por picada de escorpião ou quadro clínico resultante do acidente escorpiônico) é um agravo de considerável repercussão médico-sanitária brasileira, pela alta incidência e potencial gravidade dos casos, perfazendo a maioria dos atendimentos de acidentes por animais peçonhentos no Centro de Informação e Assistência Toxicológica (CIATs)

Minas Gerais e São Paulo são os campeões das notificações.

Tytius serrulatus parece a ser responsável por acidentes de maior gravidade no Brasil.

Os escorpiões são cosmopolitas, embora o perfil epidemiológico mais grave dos acidentes com esses animais ocorra em áreas de maior concentração urbana, regiões climáticas quentes e em épocas de aumento de temperatura e pluviosidade. Além disso, os acidentes são mais frequentes durante a noite, quando os escorpiões habitualmente saem para buscar alimentos, sendo que a maior parte das picadas ocorre nas extremidades do corpo

A maioria dos casos ocorrem nos meses quentes e chuvosos. As picadas atingem predominantemente os membros superiores.

Os escorpiões são animais carnívoros, alimentando-se principalmente de insetos, como grilos ou baratas.

Apresentam hábitos noturnos, escondendo-se durante o dia sob pedras, troncos, dormentes de linha de trem, em entulhos, telhas ou tijolos.

Muitas espécies vivem em áreas urbanas, onde encontram abrigo dentro e próximo das casas, bem como alimentação farta.

Os escorpiões podem sobreviver vários meses sem alimento e mesmo sem água, o que torna seu combate muito difícil. Os escorpiões de importância médica no Brasil pertencem ao gênero Tityus.

Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste do Brasil; é a principal espécie que causa acidentes graves, com registro de óbitos, principalmente em crianças. A denominação da especie é devida à presença de uma serrilha nos 3° e 4° anéis da cauda. Mede até 7 cm de comprimento. Sua reprodução é partenogenética(sem a necessidade de machos), na qual cada mãe tem aproximadamente dois partos com, em média, 20 filhotes cada, por ano, chegando a 160 filhotes durante a vida. Devido aos hábitos domiciliares e à periculosidade da picada é responsável pela maioria dos acidentes escorpiônicos verificados no Brasil em região urbana, devido ainda à grande expansão de distribuição nos últimos 25 anos.

Leste e Centro do Brasil. Mede 6 cm de comprimento, tem coloração muito escura e patas castanhas. A espécie é responsável, no Brasil, pelo maior número de casos de acidentes escorpiônicos em áreas rurais.

Estados da região Nordeste do Brasil. Tronco amarelo-escuro, apresentando um triângulo negro no cefalotórax, uma faixa escura longitudinal mediana e manchas laterais escuras nos tergitos. Comprimento de 6 cm a 7 cm.

Nome popular: escorpião preto. Tamanho: 8 a 10 centímetros. Aparência:  de cor castanho escuro avermelhado, com alguns pontos mais claros;  Distribuição geográfica: região amazônica. Reprodução: sexuada. O Tityus cambridgei é um Aracnídeo do Grupo dos Escorpionídeos. É encontrado na América do Sul, inclusive no Brasil. Tem a cor preta na maior parte do corpo.  Sua cauda e suas penças são bem longas. Alimenta-se de pequenos animais, com insetos. O Tityus cambridgei usa suas pinças e seu ferrão para se defender de predadores, duelar com outros escorpiões e se defender de predadores. Suas pinças também são úteis para a dança do acasalamente.

De 7 a 9 cm de comprimento; colorido vermelho-escuro, quase negro com discretas manchas no troco e pernas; 4o e 5o segmentos da cauda mais espessos com relação aos demais; presença de um espinho sob o ferrão. Distribuição geográfica: Acre, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima. 

Efeitos do veneno escorpionico:

  1. efeitos complexos nos canais de sódio
  2. despolarização das terminações nervosas pós-ganglionares
  3. liberação de catecolaminas e acetilcolina

O veneno do escorpião contém uma mistura heterogênea de toxinas com variantes entre as espécies. No entanto, a característica marcante da maioria deles é a presença de proteínas neurotóxicas capazes de atuar em sítios específicos de canais de sódio, com subsequente despolarização das terminações nervosas pós-ganglionares, levando à liberação maciça de neurotransmissores, principalmente epinefrina, norepinefrina e acetilcolina, responsáveis pela maior parte dos sinais e sintomas clínicos do escorpionismo.

Sobrecarga de acetilcolina causa:

  • aumento da secreção do pâncreas
  • aumento da secreção do de mucosa gástrica
  • aumento de secreção de glândulas sudoríparas
  • piloereção
  • alterações do sistema termorregulador,
  • tremores
  • espasmos musculares
  • miose
  • priaprismo
  • bradicardia
  • hipotensão

A liberação maciça de catecolaminas pode ocasionar:

  • midríase
  • hiperglicemia - geralmente ocorre nas primeiras horas após a picada em acidentes moderados e graves
  • arritmias cardíacas
  • hipertensão arterial, ---------> edema agudo de pulmão e falência cardiocirculatória

QUADRO CLINICO

Os acidentes por Tityus serrulatus são mais graves.

Os escorpiões inoculam o veneno pelo ferrão ou telson, localizado no último segmento da cauda.

A dor local (ardor, queimação ou agulhada) pode ser acompanhada por parestesias (formigamento), aumentar de intensidade à palpação e irradiar-se para a raiz do membro acometido. Ponto(s) de inoculação nem sempre são visíveis, na maioria dos casos, há apenas discreto eritema e edema, podendo-se observar também sudorese e piloereção local.

Nos acidentes moderados e graves, principalmente em crianças, após minutos até poucas horas (2-3h), podem surgir manifestações sistêmicas.

  • Gerais: hipo ou hipertermia e sudorese profusa.
  • Digestivas: náuseas, vômitos, sialorréia e, mais raramente, dor abdominal e diarréia.
  • Cardiovasculares: arritmias cardíacas, hipertensão ou hipotensão arterial, insuficiência cardíaca congestiva e choque.
  • Respiratórias: taquipnéia, dispnéia e edema pulmonar agudo.
  • Neurológicas: agitação, sonolência, confusão mental, hipertonia e tremores.
  1. Acidentes leves (93%): Dor local imediata, geral e intensa, devido ao estresse e dor da picada, pode ocorrer hipertensão transitória, taquicardia e náuseas.
  2. Acidentes moderados: mesmas manifestações dos casos leves associadas a algumas manifestações sistêmicas discretas: vômitos ocasionais, agitação, sudorese, taquipneia, taquicardia, hipertensão arterial.
  3. Casos graves: manifestações sistêmicas evidentes: vômitos abundantes, sudorese, sialorreia, agitação alternada com sonolência, taquidispneia, broncorreia, arritmias cardíacas, bradicardia ou taquicardia, hiper ou hipotensão arterial, priapismo. O quadro pode evoluir para insuficiência cardíaca, edema pulmonar, choque e óbito.

COMO FAZEMOS O DIAGNÓSTICO?

Criança de três anos, sexo feminino, previamente hígida, proveniente de Contagem-MG, com relato de estar brincando no tapete de casa em 22/03/2012, por volta das 22:00 h, quando subitamente começou a chorar e a queixar-se de dor no dorso da mão direita. Evoluiu com vômitos, sendo atendida na UPA-Contagem às 2:00 h de 23/03/2012 com rebaixamento do sensório (Escala de Coma de Glasgow 9), sudorese, taquipneia, fase expiratória aumentada, murmúrio vesicular reduzido e presença de crepitações na ausculta pulmonar, pulsos periféricos impalpáveis e pulsos centrais finos, glicemia capilar de 377 mg/dL. Recebeu tratamento de suporte intensivo com entubação orotraqueal, exibindo hematúria macroscópica e sangramento observado no tubo endotraqueal. Apresentou três episódios de parada cardiorrespiratória (PCR).
A principal suspeita neste caso:

A. cetoacidose diabetica
B. escorpionismo
C. intoxicação química
D. hematoma epidural (TCE não-presenciado)
E. maus-tratos

O diagnóstico é clínico, frequentemente há o encontro do escorpião no local do acidente (na região sudeste, o responsável pela maioria dos casos é o Tityus serrulatus, "escorpião amarelo" e em segundo lugar, o T. bahiensis ("marrom").

Pacientes com manifestações sistêmicas ainda podem apresentar

  • leucocitose com neutrofilia,
  • hipopotassemia,
  • hiperamilasemia,
  • hiperglicemia e glicosúria.
  • elevação das enzimas cardíacas

A radiografia do tórax pode evidenciar aumento da silhueta cardíaca e sinais de edema pulmonar agudo.

Quanto os riscos para o sistema nervoso, o acidente escorpionico pode se complicar frequentemente com:

A. infarto cerebral
B. cegueira
C. surdez
D. hemorragia intraparenquimatosa
E. meningite asseptica

Alterações do sistema nervoso central têm sido observadas mais raramente, com descrição na literatura de envenenamento por escorpiões do gênero Tityus associado a infarto cerebral. Isso poderia justificar a necessidade de realização de tomografia computadorizada de crânio em casos específicos e quando indicado

A detecção quantitativa do veneno circulante do T. serrulatus pode ser realizada por técnicas de imunodiagnóstico (ELISA).

TRATAMENTO

Sintomático: Objetivo: alívio da dor. Único tratamento realizado na maioria dos casos que são leves (90%). Infiltração de lidocaína a 2% sem vasoconstritor no local da picada ou realização de bloqueio. Dipirona ou outro analgésico, por via oral ou parenteral.

Específico: soro antiescorpiônico (SAE) ou, na falta deste, soro antiaracnídico (SAAr). administrar a pré-medicação (hidrocortisona, dexclorfeniramina e ranitidina) 15-30 min antes do mesmo.

  • três ampolas nos casos moderados
  • seis ampolas nos graves

Casos moderados: devem ser tratados com soroterapia específica em crianças abaixo de 7 anos. Para acidentes moderados em pacientes maiores de 7 anos: a terapia específica estará indicada somente se as manifestações sistêmicas persistirem após o tratamento sintomático. Devido a possibilidade de redução da fração de ejeção cardíaca, a infusão de volume quando indicada, deverá ser realizada sob monitorização rigorosa, devido ao risco de evolução para choque cardiogênico.

IMPORTANTE: Em casos moderados e graves é comum a presença de hipocalemia que se resolve espontaneamente após o tratamento específico.

MISODOR, 21 08 2019

BIBLIOGRAFIA:

  1. MANUAL DE IDENTIFICAÇÃO DE ESCORPIÕES - PREFEITURA DA PAULISTÂNIA 2019
  2. MANUAL BÁSICO DE CONTROLE DE ESCORPIÕES DIVAL/GEVAC/NUNOR Brasília, agosto de 2015
  3. FUNDAÇÃO NACIONAL DE SAÚDE. Manual de Diagnóstico e Tratamento de Acidentes por Animais Peçonhentos. Brasília: Ministério da Saúde, 2001.
  4. Revista Qualidade HC Acidente escorpiônico na Sala de Urgência Autores e Afiliação: Prof. Dra. Palmira Cupo. Docente do Departamento de Puericultura e Pediatria (FMRP-USP). Coordenadora do Centro de Informação Toxicológico de Ribeirão Preto (HC-FMRP-USP) Viviane Imaculada do Carmo Custodio. Médica assistente do Centro de Informação Toxicológico de Ribeirão Preto (HC-FMRP-USP)
  5. ESCORPIONISMO: QUADRO CLÍNICO E MANEJO DOS PACIENTES GRAVES (Scorpion Envenomation: clinical presentation and management of severe cases) Patrícia Drumond Ciruffo ; Livia de Oliveira Coutinho ; Júnia Dueli Boroni ; Ana Elisa Tavares Diniz ; Wallace Fernandes Diniz E.



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